Olá!
Para encerrar o mês de março, o grupo da Távola Redonda reuniu-se no dia 30, sexta-feira (como de costume), e discutiu descontraidamente sobre dois termos importantes e indissociáveis: Globalização e Sustentabilidade. Os textos a seguir estão distribuídos em três grandes blocos. * Primeiro - uma abordagem breve diante da relevância do assunto, sobre a Globalização. Neste momento, a palavra alteridade surgirá como figura complementar do tema. * Segundo: uma crítica sobre a sociedade de consumo que está afetando diretamente a sustentabilidade do planeta. * Terceiro: o consumo inconsciente dos produtos que já saem de fábrica com data de validade. Diga-se de passagem que não estamos falando sobre alimentos!
O último encontro ocorreu no Restaurante Quiosque. Iniciamos nosso bate-papo no terraço mas a baixa temperatura nos "correu" para dentro do restaurante. É o outono chegando, brrrrrr. É um belíssimo local! Nos envolvemos tão rapidamente nas discussões que esquecemos de fazer o registro fotográfico. No próximo encontro não esqueceremos. Devido a diversidade de concepções e abordagens que cada participante proferiu sobre a temática em questão, optamos por postar o resumo redigido por cada um, ao invés de um resumo geral como nas postagens anteriores.
Então, vamos lá!
GLOBALIZAÇÃO, MULTICULTURALISMO E ALTERIDADE. Por Romeu Fernando Waechter
O fenômeno da globalização é complexo porque instiga e acumula incontáveis transformações. Rafael Lóris traduz este acontecimento de forma muito clara:
“[...] Pode-se afirmar que consiste, em linhas gerais, em um fenômeno multidimensional, complexo e contraditório. Falando de modo geral, a globalização se refere em uma complexa série de eventos que tem redefinido a lógica de produção, consumo, comunicação e valores entre diferentes grupos de pessoas em todos os cantos do planeta”
Embora diversas civilizações da história da humanidade mantivessem contato entre si, a capacidade de culturas distantes interagirem de modo intenso foi tradicionalmente limitada. O comércio e as guerras eram os dois modos principais que ao longo da história levaram, pelo menos, setores específicos de praticamente todas as sociedades a viajar grandes distâncias. “Porém, para grande maioria da humanidade, contatos entersocietais eram muito superficiais e a necessidade de sua regulação era quase inexistente”.
A globalização proporcionou a gênese de novos conceitos dentro de contextos socialmente homogêneos. Isto se chama multiculturalismo. Multiculturalismo (ou pluralismo cultural) é um termo que descreve a existência de muitas culturas numa localidade, cidade ou país, sem a predominância de qualquer uma delas. Este modo “convivial” pode ser percebido como um verdadeiro “mosaico cultural”.
A doutrina multiculturalista enfatiza a idéia de que as culturas minoritárias são discriminadas, vistas como movimentos particulares, todavia, elas devem merecer reconhecimento público. Para se consolidarem, essas culturas singulares devem ser amparadas e protegidas pela lei. O multiculturalismo opõe-se ao que ele julga ser uma forma de etnocentrismo (visão de mundo da sociedade branca dominante que se toma por mais importante que as demais).
A política multiculturalista visa resistir à homogeneidade cultural, principalmente quando esta homogeneidade é considerada única e legítima, submetendo outras culturas a particularismos e dependência. Sociedades pluriculturais coexistiram em todas as épocas, e hoje, estima-se que apenas 10% a 15% dos países sejam etnicamente homogêneos.
Charles Taylor, autor de Multiculturalismo, Diferença e Democracia, acredita que toda política identitária não deveria ultrapassar a liberdade individual. Indivíduos, no seu entender, são únicos e não poderiam ser categorizados. Taylor definiu a democracia como a política do reconhecimento do outro, ou seja, da diversidade.
ALTERIDADE
No aspecto das relações interpessoais, a alteridade é um fenômeno cada vez mais debatido, pois existem sociedades heterogêneas com diversos seguimentos e paralelamente com diferentes identidades.
“Tentar compreender a alteridade, isto é, a relação com os outros, é um tema candente no cenário internacional contemporâneo. A xenofobia e o racismo, as guerras étnicas, o preconceito e os estigmas, a segregação e a discriminação baseadas na raça, na etnia, no gênero, na idade ou na classe social são todos os fenômenos amplamente disseminados no mundo, e que implicam em altos graus de violência. Todos eles são manifestações de não reconhecimento dos outros como seres humanos cabais, com os mesmos direitos que os nossos.” Por: Elisabeth Jelin, em Cidadania e Alteridade: o reconhecimento da pluralidade.
Alteridade seria, portanto, a capacidade de conviver com o diferente, de auto-proporcionar um olhar interior a partir das diferenças. Significa que “eu reconheço o outro” também como sujeito de iguais direitos. É exatamente essa constatação das diferenças que gera a alteridade.
Os indivíduos têm sido continuamente condicionados a manter-se extremamente fixados na valorização das suas diferenças individuais: força, inteligência, raça, gênero e poder. No sentido inverso à alteridade, a intolerância busca uma “solução”, de preferência imediata, para um problema e não um tratamento permanente, um caminho a ser seguido, principalmente com vistas a evitar sua repetição no futuro.
A intolerância, geralmente pela incapacidade de perceber o universo de inter-relações sociais e culturais determinantes de uma dada situação, exige um culpado para satisfazer um erro.
“O espírito de intolerância deve estar apoiado em razões muito más, já que por toda parte busca os menores pretextos”.
Por: Voltaire, em Tratado Sobre a Tolerância.
A DÉBIL SUSTENTABILIDADE DA SOCIEDADE DO CONSUMO
Por Heitor Jorge Lau
Cidadãos das mais diversificadas tribos têm dedicado uma fração de tempo das respectivas agendas para discutir sobre a iminente falência dos recursos renováveis e não renováveis do planeta. O termo “sustentabilidade” está ocupando um lugar de destaque nas pautas de reuniões acadêmicas, empresariais, e até mesmo das mesas de bar. Mas, fala-se em desmatamento, desperdício de recursos hídricos e exploração de recursos naturais em larga escala sem considerar que o consumo desenfreado e inconsciente da sociedade é o grande responsável pela inevitável catástrofe que não tardará a se apresentar.
A sociedade do consumo que figura como protagonista deste cenário de devastação ecológica encontra-se ilhada por sentimentos de fetichismo em relação a tudo que acena com a roupagem de moderno e inovador. Esta ânsia insana de comprar até mesmo o desnecessário transforma o ser humano em mercadoria, os quais mediam suas relações sociais pelo consumo de produtos, valores e até mesmo de aparências. A concepção de “ser alguém” cede lugar ao “ter para ser” gerando a falácia de que para ser um sujeito é preciso, antes de tudo, tornar-se uma mercadoria.
O excesso de “culturismo” pelo corpo ou por padrões estabelecidos como destacáveis na sociedade do consumo provoca na mente do consumidor a inquietude incessante e a preocupação atemporal com relação ao obsoleto e “marginalização social”. Marginalização no sentido de ser posto à margem da sociedade por não pertencer a classe dos indivíduos que, acima de qualquer valor, possuem para ser.
A premissa fundamental é posicionar-se de tal maneira que o sentimento de pertencimento social seja sacramentado instantaneamente. Este molde comportamental remete a percepção de todo consumidor para uma espécie de “isomorfismo”, ou seja, para a sensação de que a posse igualiza e equaliza a tudo e a todos.
Mas este sentimento utópico de pertencimento mascara o verdadeiro cenário em que se encontram os consumidores: uma sociedade fragmentada. São fragmentos de satisfação, de felicidade, de amizade, de pertencimento, de vida renovada. Esta quimera em que a sociedade do consumo vive lembra muito o quê Montaigne disse um dia: - Não há nenhum mal na vida para aquele que bem compreendeu que a privação da vida não é um mal.
Ao contrário do que ele declarou, a sociedade atual renega insistentemente a hipótese de sentir infelicidade. Desta forma, o consumo desenfreado de bens fúteis tornou-se institucionalizado, aceito como normal e não recriminável.
Toda abordagem anterior foi elaborada com o objetivo de estimular a reflexão acerca das ações que precisam ser feitas com vistas a estagnação do processo galopante de deterioração dos recursos naturais do planeta. O modus operantis adotado pela população mundial é comparável com o mesmo dos gafanhotos – consomem absolutamente tudo ao seu redor, de uma única fonte de fornecimento, sem preocupação com a regeneração do ambiente.
Cada produto levado para dentro de casa é proveniente da natureza, em outras palavras, cada um leva para dentro do lar um pedaço da natureza. Por esta razão maior é que o consumo inconsciente deve ser repensado, extinto. A humanidade está consumindo 30% a mais do que o planeta consegue repor em 01 ano e 20% da humanidade está consumindo 80% dos recursos naturais do planeta.
Mahatma Gandhi disse:
“A terra é capaz de satisfazer as necessidades de todos os homens, não a ganância” e “Sejamos nós, a mudança que queremos para o mundo”.
OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA. O QUE É ISSO?
Por Nelza Lau
Vocês conhecem o conceito Obsolescência Programada ? Basta pensar em uma situação, bem recorrente: sua lavadora de roupa estraga; você a leva para o conserto, mas o orçamento fica tão caro que vale mais a pena comprar uma nova! O motivo de o equipamento antigo ficar obsoleto é a Obsolescência Programada, isto é, o equipamento chegou ao limite de vida útil programado pelo próprio fabricante.
Encontrei o histórico na enciclopédia livre Wikipédia, que demonstra que o conceito é antigo e que permeia nossa vida há muito tempo:
Obsolescência programada é o nome dado à vida curta de um bem ou produto projetado de forma que sua durabilidade ou funcionamento se dê apenas por um período reduzido. A obsolescência programada faz parte de um fenômeno industrial e mercadológico surgido nos países capitalistas nas décadas de 1930 e 1940 conhecido como "descartalização". Faz parte de uma estratégia de mercado que visa garantir um consumo constante através da insatisfação, de forma que os produtos que satisfazem as necessidades daqueles que os compram parem de funcionar ou tornem-se obsoletos em um curto espaço de tempo, tendo que ser obrigatoriamente substituídos de tempos em tempos por mais modernos. A obsolescência programada foi criada, na década de 1920, pelo então presidente da General Motors Alfred Sloan. Ele buscou atrair os consumidores a trocar de carro frequentemente, tendo como apelo a mudança anual de modelos e acessórios. Bill Gates, fundador da Microsoft, também adotou esta estratégia de negócio nas atualizações do Windows. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Obsolesc%C3%AAncia_programada)
Muito provavelmente, em 1920 e nas décadas de 30 e 40, isto foi de fundamental importância para o desenvolvimento econômico e social do mundo como o conhecemos (industrialização, geração de empregos, produção de riquezas, etc.). Porém, atualmente é assustador perceber que tudo que a sociedade descarta (máquinas de lavar, geladeiras, automóveis, celulares, baterias, etc.) vai parar “não-se-sabe-bem-onde”. Estamos chegando perigosamente no limite de regeneração planetária graças ao acúmulo de lixo sem precedentes na história da humanidade.
Mudança de Paradigma
Considerando um paradigma como um conjunto de opiniões, conceitos e práticas que guiam a ação humana, a limitação física do planeta e a conseqüente percepção de que os recursos são esgotáveis e/ou não se renovam na mesma quantidade/velocidade em que são consumidos e descartados pode ser vista como um paradigma emergente. Uma das mudanças essenciais para a constituição deste novo paradigma é a percepção de que o homem não mais pode ser visto como um elemento alheio à natureza. Outra se refere à substituição do senso predominante de abundância por um senso de escassez ou de limitação de recursos. Este último apresenta-se como um desafio enorme, uma vez que a sociedade capitalista está evoluindo exatamente no sentido oposto, de valorizar e de adotar o consumismo selvagem cada vez mais. Por sua parte, os consumidores não são conscientes ainda do preço que pagam pelo custo da poluição e, exceto certos consumidores de alguns países desenvolvidos, a maioria deles não percebe a extensão dos danos que o consumismo pode provocar.
Mas o meio ambiente é assunto de direitos humanos, assim como a liberdade de expressão, e já é tempo de os países desenvolvidos enfrentarem decididamente esse problema - sob o risco de vê-lo crescer cada vez mais e mais rapidamente. Antes de tudo é importante e urgente que o poder público elabore uma legislação específica que cubra o ciclo completo – da fabricação dos produtos especialmente os E-waste (*), ao descarte seguro do lixo.
· E-waste é o nome genérico atribuído aos aparelhos eletrônicos ou computadores descartados. Esses itens possuem diferentes origens e abrangem televisores, computadores, telefones, aparelhos de ar condicionado, celulares e brinquedos eletrônicos, além de elevadores, geladeiras, lava-louças, secadoras, equipamentos para cozinha e até aviões.
Bem, as idéias postadas acima são frutos dos estudos e concepções dos membros da Távola Redonda. O objetivo é semear a reflexão na mente de todo internauta cedento por conhecimento e preocupado com o bem estar do planeta. Resta partir para atitudes mais objetivas e imeditas, afinal, não existe outro planeta água ou um plano B.
Távola Redonda
Nelza Lau, Romeu Fernando Waechert e Heitor Jorge Lau