quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O UNIVERSO DA MATEMÁTICA

Olá!

Nosso grupo de estudos andou meio afastado dos encontros e debates calorosos.
Mas foi por uma boa causa... compromissos mil, todos à noite.
Nossa intenção é retornar as atividades ainda neste mês.

Para esquentar este blog que andava parado e esquecido, resolvemos inserir um texto que valoriza a matemática, disciplina tão abominada por grande fração da humanidade. Pena, afinal ela está presente em nossa vida dia após dia, hora após hora...

* O texto não é de nossa autoria.
* Fonte: www.comciencia.br/reportagens/modelagem/mod11box.htm



Música e matemática: uma antiga relação

Adolfo Maia, do Nics - "O número de aplicações da matemática em música é praticamente infinito"A relação entre música e matemática já vem de longa data. Desde a Antigüidade, quando Pitágoras esticou uma corda e analisou o som produzido através de sua vibração. Pitágoras provou que ao dividir a vibração bem no meio da corda, a tonalidade do som era a mesma da produzida com a corda solta, mas uma oitava acima, ou seja com o som mais agudo. Ao fazer as outras divisões, o filósofo descobriu que as principais consonâncias, as combinações de sons mais agradáveis, eram as oitavas, as quartas e as quintas, que correspondem as divisões exatas da corda esticada em um arco e são a base da harmonia para instrumentos de cordas.

Pitágoras associou números inteiros ao comprimento da corda, com a corda solta associada ao número 1 e metade da corda equivalente a 1/2 e assim por diante. A partir desta experiência, a relação entre música e matemática ficou muito mais próxima e passou a ser uma forma de descrever a natureza e de desenvolvimento da ciência.

No século 11, o italiano Guido d'Arezzo inventou um algoritmo de substituição de letras (vogais) por notas musicais para ser aplicado no canto eclesiástico. Para cada vogal havia uma nota associada. Foi o primeiro algoritmo conhecido na história da música. O algoritmo é a peça fundamental para a concepção de música no computador, que usa algoritmos bem mais complexos do que aqueles usados por d'Arezzo.

No século 17, o astrônomo Kepler escreveu o livro "A Harmonia dos Mundos", onde estabelecia uma profunda relação entre a matemática, a música e a natureza. Kepler associou a posição dos planetas e de suas órbitas em termos de números relacionado com as escalas musicais. Para Kepler, cada planeta tinha uma tonalidade musical e a movimentação em conjunto dos planetas produzia uma "melodia celeste". Ao elaborar a sua Lei Harmônica, ele estabelece a relação correta entre os períodos das órbitas dos planetas e as suas distâncias do Sol.

Os grandes compositores da música universal também utilizavam a matemática. No período Barroco, Bach aplicava os princípios de simetria em suas composições, que tinham características de um raciocínio bem matemático. Depois, Mozart, que fazia uma música mais intuitiva, também criou um sistema chamado atualmente de "Jogos de Dados de Mozart", que aplicava os princípios de probabilidade para organizar e construir temas musicais.

Mas foi no século 20, com o surgimento da eletrônica, que a associação entre música e a matemática passou a ser mais intensa. Com as composições revolucionárias de Arnol Schoenberg e Anton Webern e o aparecimento da música dodecafônica, da música atonal e da música serial, houve uma grande procura por novos princípios de organização sonora. Os compositores Milton Babbit e Allen Fort desenvolveram pesquisas usando conceitos de Lógica e Teoria dos Conjuntos para formalizar os processos de criação de música serial e atonal.

A partir de 1945, com o final da Segunda Guerra, compositores como Stockhausen, Karl Heins e Hebert Eimert, passaram a fazer experiências com sons eletrônicos e criaram um estúdio na cidade de Colônia na Alemanha. A partir desta época, várias tendências se abriram para a música eletrônica, com o uso de sons sintetizados, filtros de ondas sonoras e produções transformadas eletronicamente.

A relação entre matemática e música ficou ainda mais íntima com o desenvolvimento dos computadores. Em 1957 foi criada a primeira música com a utilização de um computador como objeto de criação musical. Foi um marco histórico, comparado à invenção do algoritmo de substituição de letras por notas, feito nove séculos antes por Guido d'Arezzo. A peça, "Illiac Suite", era um quarteto para cordas e levava o nome do computador (Illiac) em que foi gerada. A música foi composta pelo americano Lejaren Hiller em parceria com Leonard Isaacson.

Outros exemplos do século 20, mostram novas aplicações da matemática na música, como o compositor Iannis Xenakis, que escreveu o livro "Formalized Music", hoje um clássico na área, onde descreve e discute várias estruturas matemáticas como princípios de organização do som e composição musical. Por exemplo, Xenakis usava os Processos de Markov para fazer o controle de massas sonoras evoluindo no tempo. Os Processos de Markov pertencem a uma área da matemática que estuda os Processos Probabilísticos e Controle Temporal, para determinar um próximo passo de um sistema físico através de uma distribuição de probabilidade.

"O número de aplicações da matemática em música é praticamente infinito. Em certo sentido é possível se criar estruturas para serem utilizadas em uma música apenas. Neste sentido, a criação matemática confunde-se com a de compositor. O compositor, matemática e computacionalmente orientado, tem um universo sonoro muito mais amplo do que seus antecessores e por isso mesmo precisa, muitas vezes, se comportar como um explorador. Nós do Nics estamos descobrindo um pedacinho desse Universo", diz o pesquisador Adolfo Maia.

 Abraços.
Nelza Lau, Heitor Jorge e Romeu Fernando Waechter
Távola Redonda


segunda-feira, 21 de maio de 2012

MISTICISMO


  Olá!



  No último sábado, 19 de maio, discutimos sobre uma  temática que rende muito discurso e pontos de vista: Misticismo. Nos reunimos, como sempre, no Restaurante Quiosque, e o estudo nos proporcionou uma visão mais ampla sobre algo que muito se fala no horizonte da especulação. 


  Este é o resumo do nosso encontro. Boa leitura!




  O misticismo pode ser reconhecido como uma prática de cunho religioso - como a meditação, a contemplação e até mesmo a prece-, visando sempre uma comunhão do espírito com o princípio fundamental de todo ser. Mas é importante não confundir misticismo com religião. A saber, a religião evoca algum conjunto de crenças, dogmas, costumes e ritos característicos de alguma comunidade que reverencia um mesmo deus. As religiões, na maioria das vezes, comportam um fundador, escrituras sagradas e edificações para o culto coletivo. Elas são organizadas e hierarquizadas de forma a difundir a fé e arregimentar simpatizantes. Muitos místicos são oriundos da religião, todavia, isto é não é uma regra invariável. Afinal, existem místicos que não são religiosos, e religiosos que não são místicos.

   Na prática, qualquer experiência mística jamais dependerá de algum tipo de organização, hierarquia, templo ou escrito sagrado porque se trata de um “posicionamento interior”, com o intuito da percepção imediata do divino. Por isso, ser um místico significa vivenciar, acima de tudo, a realidade divina dentro de si. Essa experimentação é reconhecida como algo transformador, uma vez que a união com o divino transforma o homem material em homem espiritual. Esta “transformação” não requer, em momento algum, a abdicação do mundo, pelo contrário, elucida ao místico, a possibilidade de libertação do apego ao material, dispensando assim, o regozijo pelas tentações do prazer ilusório e momentâneo.

  O estado de bem-aventurança que o misticismo propicia pode ser reconhecido como as virtudes da compaixão e generosidade, típicos de todo ser humano altruísta. Este estado de perfeita e completa felicidade aproximam o místico dos seus semelhantes ao invés de isolá-lo. Mas, a aproximação ou não repúdio pelo diferente, por assim dizer, é uma escolha particular porque muitos optam pelo isolamento a fim de buscar um estado de consciência superior.

  Gurdjieff - filósofo e mestre espiritual-, denominou o misticismo de o “4º caminho”. Ele dizia que era o caminho daqueles que queriam permanecer neste mundo, mas não desejavam pertencer ao mundo. Nesta escolha o místico buscará encontrar a auto-realização e a compreensão do universo e da natureza, contudo, sem renunciar aos seus afazeres do dia-a-dia

    A opção pelo misticismo não requer, necessariamente, a união com um Deus pessoal conforme a concepção judaico-cristã, ao contrário das tradições orientais, onde se fala da união com o divino através da união com o todo ou o absoluto. Daí provém a preferência de inúmeras escolas místicas em substituir o termo Deus
por Cósmico, que significa uma ordem universal viva, regente de tudo que existe.

    Trata-se de uma questão, essencialmente de preferência, que não interfere no culto da espiritualidade. Resumidamente, um místico será sempre um ser que se harmoniza com uma ordem superior (com o Uno, Absoluto, Tao...) sem qualquer necessidade, para tal, da intermediação de um sacerdote ou uma instituição religiosa. O conhecimento que todo místico procura está longe de ser intelectual ou doutrinário, mas sim, intuitivo e experimental. Trata-se da busca por sua essência (divina) interior com a qual extinguirá toda e qualquer impureza do seu “eu inferior”.

Por Távola Redonda
Romeu Fernando Waechter, Nelza Lau e Heitor Jorge Lau

quarta-feira, 18 de abril de 2012

OS LIMIARES DO CONHECIMENTO CONSCIENTE


"O homem, como podemos perceber ao refletirmos um instante, nunca percebe plenamente uma coisa ou a entende por completo. Ele pode ver, ouvir, tocar e provar. Mas a que distância pode ver quão acuradamente consegue ouvir, o quanto lhe significa aquilo em que toca, e o que prova tudo isso depende do número e da capacidade dos seus sentidos. Os sentidos do homem limitam a percepção que este tem do mundo à sua volta. Utilizando instrumentos científicos pode, em parte, compensar a deficiência dos sentidos. Consegue, por exemplo, alongar o alcance da sua visão através do binóculo ou apurar a audição por meio de amplificadores elétricos. Mas, a mais elaborada aparelhagem nada pode fazer além de trazer ao seu âmbito visual objetos ou muito distantes, ou muito pequenos e tornar mais audíveis sons fracos. Não importa que instrumentos ele empregue; em um determinado momento há de chegar a um limite de evidências e de convicções que o conhecimento consciente não pode transpor."
Carl Gustave Jung

Postado por Távola Redonda

terça-feira, 17 de abril de 2012

CIÊNCIA e RELIGIÃO

Olá!

Sexta-feira 13, uma nova temática instigadora de perguntas e respostas: Ciência &  Religião.


A Távola Redonda reuniu-se novamente para colocar "na mesa" suas idéias e opiniões, sempre fundamentadas por diversas óticas, e na tentativa de mantê-las imunes a tentação da resposta final. O tema rendeu discursos interessantes e acalorados. Esta é a síntese. 





A Religião e a Vida Virtuosa

Aparentemente, o que nos move para uma religião, é a necessidade intrínseca de nos conectar com o sagrado. Creio que é da natureza humana desejar a vida eterna e isto, de certa forma, demonstra amor pela vida. Idéias filosóficas - sobre a morada da alma após a morte, por exemplo, são praticamente universais e podemos encontrar suas origens na pré-história: os homens de Neanderthal tinham rituais de sepultamento que sugerem uma crença de continuidade da vida após a morte.

Nos 1.900 anos que antecederam Jesus Cristo, encontraremos pelos menos trinta filósofos expressivos, predominantemente gregos, que se preocupavam em criar hipóteses que dessem sentido à vida humana. Alguns exemplos: Tales, Pitágoras, Heráclito, Sócrates, Aristóteles, Platão e Epícuro (todos gregos); Láo-tsé e Confúcio (chineses); Sidarta Gautama, o Buda (indiano); Zoroastro (persa), fundador do Zoroastrismo, que defendia uma vigorosa noção de bem e do mal, considerada a primeira manifestação de monoteísmo ético. Segundo historiadores da religião, algumas das concepções do Zoroastrismo - a crença no paraíso, na ressurreição, no juízo final e na vinda de um messias - viriam a influenciar outras religiões, inclusive o cristianismo.

Podemos encerrar este exercício histórico pelos hebreus, outra pujante força filosófica no mundo antigo, citando Abraão (1900 a.C.), Moises (1220-1200 a.C.), Davi (1013-973 a.C.) e Jesus Cristo (5 a.C. – 30 d.C.). Os hebreus antigos, com suas concepções de um Deus único e da lei dada por Ele, “armaram o palco para a civilização ocidental” um milhar de anos antes de Cristo. Talvez não haja um filósofo hebreu singular (antes de Jesus) que tenha alcançado a estatura de Confúcio, Buda ou Sócrates, mas os antigos pensadores hebreus nos deixaram um dos mais influentes livros da história – a Bíblia hebraica, ou o “ Antigo Testamento”.

As igrejas devem sua origem a mestres dotados de fortes convicções individuais, mas tais mestres raramente tiveram influência sobre as igrejas que fundaram, enquanto que as igrejas tiveram enorme influencia sobre as comunidades em que floresceram. Nada há de acidental quanto a essa diferença entre uma igreja e o seu fundador. Logo que se supõe que a palavra de certos homens contém a verdade absoluta, surge um corpo de especialistas para interpretar seus ensinamentos, e tais especialistas adquirem, infalivelmente, poder, já que possuem a “chave da verdade”. Como qualquer outra casta privilegiada, usam de seu poder em benefício próprio.

A religião, antes de tudo, é um fenômeno social - é possível perceber que somos herdeiros de um mix de concepções religiosas advindas de vários mestres, catalogadas por um corpo de especialistas.

Tradicionalmente a vida religiosa era, por assim dizer, um diálogo entre a alma e Deus. Obedecer à vontade de Deus era virtude – e isso era possível ao individuo sem que levasse em conta a situação da comunidade. Esse individualismo da alma, isoladamente, teve o seu valor em certas fases da história. O cristianismo surgiu, no império romano, entre populações inteiramente destituídas de poder politico, cujos estados nacionais haviam sido destruídos e fundidos em vastos e impessoais agregados humanos. Durante os primeiros três séculos da era cristã, os indivíduos que adotavam o cristianismo não podiam modificar as instituições sociais ou politicas sob as quais viviam, embora estivessem profundamente convencidos de que eram más. Nessas circunstâncias, era natural que adotassem a crença de que um indivíduo poderia ser perfeito num mundo imperfeito, e que a vida virtuosa nada tinha a ver com este mundo.

Em um mundo globalizado, a meu ver, um dos defeitos da religião tradicional é o seu individualismo, pois hoje precisamos mais de uma concepção social do que individual.

No que se refere ao bem-estar da comunidade, podemos também encontrar referencial no mundo antigo. Tomemos por exemplo, Platão que quando quis descrever a vida virtuosa, descreveu toda uma comunidade, e não um indivíduo; fê-lo a fim de definir o que era justiça, que é um conceito inteiramente social. Ele estava habituado à cidadania de uma república, e a responsabilidade política era algo que encarava como fato estabelecido.

A vida virtuosa, agora revisada, exige um número enorme de condições sociais e não pode realizar-se sem eles. É uma vida inspirada pelo amor e guiada pelo conhecimento. Para viver uma vida satisfatória no seu mais amplo sentido, o homem precisa ter uma boa educação, amigos, amor, filhos (se os desejar), uma renda suficiente que o mantenha distante de necessidades e de graves preocupações, boa saúde e trabalho que não lhe seja desinteressante. Todas essas coisas, em graus diversos, dependem da comunidade, e são favorecidas ou impedidas por acontecimentos políticos. A vida satisfatória tem que ser vivida numa boa sociedade, e não pode ser vivida amplamente de outro modo. Não adianta mais querer salvar apenas a própria alma, é preciso olhar a coletividade.
Por Nelza Lau


Ciência e Religião

Não é porque Immanuel Kant redigiu a “Crítica da Razão Pura” que a existência de Deus ou da religião deve ser riscada do rol de possibilidades reais - ou pode?

É interessante como estas questões permanecem em pauta há tanto tempo e por sinal continuarão nos anais da história da humanidade. A ciência que trata do assunto sob um olhar objetivo e singularmente racional, “defronta-se” praticamente com todas as religiões existentes no planeta porque estas tratam o mesmo assunto e a busca por repostas sob a ótica da subjetividade pura.

A “peleja” entre pontos de vista divergentes acontece há séculos e no final das contas, tudo que se argumenta, culmina muito mais na natureza das provas existentes do que sobre a existência de Deus e a importância das religiões para as sociedades. Esta dúvida inquietante, porém instigante, provoca uma curiosidade latente por respostas.

1º O que é religião? Religião, termo oriundo do latim religare, significa religação com o divino. Mas afinal, qual o significado da palavra divino? Divino significa excelente, maravilhoso, divinal... Então, religar ou tornar a manter contato com o maravilhoso é transcender a visão de mundo sob um prisma extremamente particular e único. Seria pertinente considerar esta conexão, de caráter estritamente pessoal, como o reencontro com a espiritualidade, ao contrário da compreensão habitual sobre a religião como puramente sinônimo de fé. Seria razoável, portanto, ao invés do questionamento sobre o que vem a ser religião, indagar o que caracteriza as aspirações de um ser humano que dá a impressão de ser religiosa.

2º O que é ciência? Não é preciso empreender muito esforço intelectual para concluir sobre o que vem a ser ciência. Ciência é o esforço secular de reunir por intermédio do pensar sistêmico, fenômenos perceptíveis “deste mundo”, formando uma concepção mais completa quanto possível. Em outras palavras, é a tentativa de reconstrução posterior da existência, através do processo da conceituação.

Bem, ao conceber a religião e a ciência conforme estas colocações, um conflito iminente entre elas pareceria praticamente impossível, pois a ciência pode apenas determinar o que é, e não o que deve ser. Por conseguinte, a ciência sem a religião é aleijada, e por outro lado, a religião sem a ciência é cega.

Desta forma, adentramos superficialmente nas regularidades que prevalecem no âmbito das coisas vivas, porém, o suficiente para perceber a existência de uma regra necessária. Por esta razão o diálogo entre ciência e religião só poderá acontecer no contexto do entendimento, mas jamais no cenário dos fundamentos. Portanto, “nem tão terra”, “nem tão céu”, porque o certo mesmo, é que o diálogo entre a ciência e religião serve para que surja uma "fé racional", deixando radicalmente de lado o literalismo bíblico e “Crítica da Razão Pura”.
Por Heitor Jorge Lau


RELIGIÃO versus MASS MíDIA


            Não é preciso muito esforço para provocar a lembrança de que há pouco tempo especulava-se que a religião estaria com os dias contatos em decorrência dos avanços tecnológicos e intelectuais da contemporaneidade. Notoriamente percebe-se que a tecnologia, bem como o acesso e a disponibilidade da informação, elevou o repensar de tudo que já foi um dia para patamares mais vanguardistas. Contudo, tudo isto não foi motivo suficiente para o abandono das práticas religiosas, ao contrário, ocorreu um acréscimo considerável da diversidade de religiões. A multiplicidade de religiões representa a “religião da modernidade” e o ajuste das suas respectivas práticas diante dos anseios da sociedade moderna.


            Não se sabe ao certo se a proliferação de outras religiões é fruto de outros pontos de vista desencadeados por elas mesmas ou se este fenômeno é oriundo do desencantamento das pessoas pelas religiões “tradicionais”. Mas é possível concluir que a tecnologia, mais especificamente a internet, contribuiu e continua contribuindo para a disseminação de idéias e ideais religiosos. Este instrumento midiático contemporâneo revitalizou e agregou potencial aos discursos que objetivam arregimentar mais simpatizantes e “ovelhas ao rebanho”.


            A premissa de que os fiéis estariam “automaticamente convertidos” a qualquer conceito religioso por ausência de opção cedeu espaço a escolha e adesão espontânea. Qual o significado disto? Isto representa que a “religiosidade moderna (atual)” tem sido delineada por influências midiáticas outrora inimagináveis. Agora, com o imponente advento da Mass Mídia - Mídias de Massa -, cada indivíduo permanece à mercê do discurso e apelo mais convincente (que vá ao encontro das necessidades emocionais, espirituais e até mesmo físicas).


            Assim, para cada público de interesse existe um discurso adequado, ou seja, o semear de palavras de esperança e fé encontram ancoradouro na seara das populações mais necessitadas. Há quem condene ou critique negativamente a prática midiática nos contextos religiosos, mas é pertinente e razoável, diante da pluralidade religiosa existente, reconhecer que tal adequação é tão natural e normal quanto qualquer outra em “tempos modernos”. O uso da comunicação objetiva, teatral e simplória, sistematicamente constituída, coloca a “palavra religiosa midiática” em pé de igualdade de competitividade com os demais programas existentes.
            Portanto, o fato concreto de tudo que foi exposto é que o Brasil, país com alto grau de miscigenação, é capaz de comportar identidades católicas e protestantes; tradições afro-brasileiras ortodoxas como candomblé e umbanda; variações sincréticas híbridas ou imaginárias; ou grupos contemporaneamente denominados de New Age – Nova Era, entre outros tantos. Diante deste fato incontestável a razoabilidade nos remete ao aceite da conjunção pacífica e permissiva das religiões e ferramentas de Mass Mídia.

Por Romeu Fernando Waechter & Heitor Jorge Lau

terça-feira, 3 de abril de 2012

GLOBALIZAÇÃO & SUSTENTABILIDADE

       Olá!


Para encerrar o mês de março, o grupo da Távola Redonda reuniu-se no dia 30, sexta-feira (como de costume), e discutiu descontraidamente sobre dois termos importantes e indissociáveis: Globalização e Sustentabilidade. Os textos a seguir estão distribuídos em três grandes blocos. * Primeiro - uma abordagem breve diante da relevância do assunto, sobre a Globalização. Neste momento, a palavra alteridade surgirá como figura complementar do tema. * Segundo: uma crítica sobre a sociedade de consumo que está afetando diretamente a sustentabilidade do planeta. * Terceiro: o consumo inconsciente dos produtos que já saem de fábrica com data de validade. Diga-se de passagem que não estamos falando sobre alimentos!


       O último encontro ocorreu no Restaurante Quiosque. Iniciamos nosso bate-papo no terraço mas a baixa temperatura nos "correu" para dentro do restaurante. É o outono chegando, brrrrrr. É um belíssimo local! Nos envolvemos tão rapidamente nas discussões que esquecemos de fazer o registro fotográfico. No próximo encontro não esqueceremos. Devido a diversidade de concepções e abordagens que cada participante proferiu sobre a temática em questão, optamos por postar o resumo redigido por cada um, ao invés de um resumo geral como nas postagens anteriores.

Então, vamos lá!




GLOBALIZAÇÃO, MULTICULTURALISMO E ALTERIDADE.
Por Romeu Fernando Waechter



O fenômeno da globalização é complexo porque instiga e acumula incontáveis transformações. Rafael Lóris traduz este acontecimento de forma muito clara:
“[...] Pode-se afirmar que consiste, em linhas gerais, em um fenômeno multidimensional, complexo e contraditório. Falando de modo geral, a globalização se refere em uma complexa série de eventos que tem redefinido a lógica de produção, consumo, comunicação e valores entre diferentes grupos de pessoas em todos os cantos do planeta”
Embora diversas civilizações da história da humanidade mantivessem contato entre si, a capacidade de culturas distantes interagirem de modo intenso foi tradicionalmente limitada. O comércio e as guerras eram os dois modos principais que ao longo da história levaram, pelo menos, setores específicos de praticamente todas as sociedades a viajar grandes distâncias. “Porém, para grande maioria da humanidade, contatos entersocietais eram muito superficiais e a necessidade de sua regulação era quase inexistente”.
A globalização proporcionou a gênese de novos conceitos dentro de contextos socialmente homogêneos. Isto se chama multiculturalismo. Multiculturalismo (ou pluralismo cultural) é um termo que descreve a existência de muitas culturas numa localidade, cidade ou país, sem a predominância de qualquer uma delas. Este modo “convivial” pode ser percebido como um verdadeiro “mosaico cultural”.
A doutrina multiculturalista enfatiza a idéia de que as culturas minoritárias são discriminadas, vistas como movimentos particulares, todavia, elas devem merecer reconhecimento público. Para se consolidarem, essas culturas singulares devem ser amparadas e protegidas pela lei. O multiculturalismo opõe-se ao que ele julga ser uma forma de etnocentrismo (visão de mundo da sociedade branca dominante que se toma por mais importante que as demais).
A política multiculturalista visa resistir à homogeneidade cultural, principalmente quando esta homogeneidade é considerada única e legítima, submetendo outras culturas a particularismos e dependência. Sociedades pluriculturais coexistiram em todas as épocas, e hoje, estima-se que apenas 10% a 15% dos países sejam etnicamente homogêneos.
Charles Taylor, autor de Multiculturalismo, Diferença e Democracia, acredita que toda política identitária não deveria ultrapassar a liberdade individual. Indivíduos, no seu entender, são únicos e não poderiam ser categorizados. Taylor definiu a democracia como a política do reconhecimento do outro, ou seja, da diversidade.
ALTERIDADE
No aspecto das relações interpessoais, a alteridade é um fenômeno cada vez mais debatido, pois existem sociedades heterogêneas com diversos seguimentos e paralelamente com diferentes identidades.
“Tentar compreender a alteridade, isto é, a relação com os outros, é um tema candente no cenário internacional contemporâneo. A xenofobia e o racismo, as guerras étnicas, o preconceito e os estigmas, a segregação e a discriminação baseadas na raça, na etnia, no gênero, na idade ou na classe social são todos os fenômenos amplamente disseminados no mundo, e que implicam em altos graus de violência. Todos eles são manifestações de não reconhecimento dos outros como seres humanos cabais, com os mesmos direitos que os nossos.” Por: Elisabeth Jelin, em Cidadania e Alteridade: o reconhecimento da pluralidade.
Alteridade seria, portanto, a capacidade de conviver com o diferente, de auto-proporcionar um olhar interior a partir das diferenças. Significa que “eu reconheço o outro” também como sujeito de iguais direitos. É exatamente essa constatação das diferenças que gera a alteridade.
Os indivíduos têm sido continuamente condicionados a manter-se extremamente fixados na valorização das suas diferenças individuais: força, inteligência, raça, gênero e poder. No sentido inverso à alteridade, a intolerância busca uma “solução”, de preferência imediata, para um problema e não um tratamento permanente, um caminho a ser seguido, principalmente com vistas a evitar sua repetição no futuro.
A intolerância, geralmente pela incapacidade de perceber o universo de inter-relações sociais e culturais determinantes de uma dada situação, exige um culpado para satisfazer um erro.
“O espírito de intolerância deve estar apoiado em razões muito más, já que por toda parte busca os menores pretextos”.
Por: Voltaire, em Tratado Sobre a Tolerância.



A DÉBIL SUSTENTABILIDADE DA SOCIEDADE DO CONSUMO
Por Heitor Jorge Lau

Cidadãos das mais diversificadas tribos têm dedicado uma fração de tempo das respectivas agendas para discutir sobre a iminente falência dos recursos renováveis e não renováveis do planeta. O termo “sustentabilidade” está ocupando um lugar de destaque nas pautas de reuniões acadêmicas, empresariais, e até mesmo das mesas de bar. Mas, fala-se em desmatamento, desperdício de recursos hídricos e exploração de recursos naturais em larga escala sem considerar que o consumo desenfreado e inconsciente da sociedade é o grande responsável pela inevitável catástrofe que não tardará a se apresentar.

A sociedade do consumo que figura como protagonista deste cenário de devastação ecológica encontra-se ilhada por sentimentos de fetichismo em relação a tudo que acena com a roupagem de moderno e inovador. Esta ânsia insana de comprar até mesmo o desnecessário transforma o ser humano em mercadoria, os quais mediam suas relações sociais pelo consumo de produtos, valores e até mesmo de aparências. A concepção de “ser alguém” cede lugar ao “ter para ser” gerando a falácia de que para ser um sujeito é preciso, antes de tudo, tornar-se uma mercadoria.

O excesso de “culturismo” pelo corpo ou por padrões estabelecidos como destacáveis na sociedade do consumo provoca na mente do consumidor a inquietude incessante e a preocupação atemporal com relação ao obsoleto e “marginalização social”. Marginalização no sentido de ser posto à margem da sociedade por não pertencer a classe dos indivíduos que, acima de qualquer valor, possuem para ser.

A premissa fundamental é posicionar-se de tal maneira que o sentimento de pertencimento social seja sacramentado instantaneamente. Este molde comportamental remete a percepção de todo consumidor para uma espécie de “isomorfismo”, ou seja, para a sensação de que a posse igualiza e equaliza a tudo e a todos.

Mas este sentimento utópico de pertencimento mascara o verdadeiro cenário em que se encontram os consumidores: uma sociedade fragmentada. São fragmentos de satisfação, de felicidade, de amizade, de pertencimento, de vida renovada. Esta quimera em que a sociedade do consumo vive lembra muito o quê Montaigne disse um dia: - Não há nenhum mal na vida para aquele que bem compreendeu que a privação da vida não é um mal.

Ao contrário do que ele declarou, a sociedade atual renega insistentemente a hipótese de sentir infelicidade. Desta forma, o consumo desenfreado de bens fúteis tornou-se institucionalizado, aceito como normal e não recriminável.

Toda abordagem anterior foi elaborada com o objetivo de estimular a reflexão acerca das ações que precisam ser feitas com vistas a estagnação do processo galopante de deterioração dos recursos naturais do planeta. O modus operantis adotado pela população mundial é comparável com o mesmo dos gafanhotos – consomem absolutamente tudo ao seu redor, de uma única fonte de fornecimento, sem preocupação com a regeneração do ambiente.

Cada produto levado para dentro de casa é proveniente da natureza, em outras palavras, cada um leva para dentro do lar um pedaço da natureza. Por esta razão maior é que o consumo inconsciente deve ser repensado, extinto. A humanidade está consumindo 30% a mais do que o planeta consegue repor em 01 ano e 20% da humanidade está consumindo 80% dos recursos naturais do planeta.

Mahatma Gandhi disse:
“A terra é capaz de satisfazer as necessidades de todos os homens, não a ganância” e “Sejamos nós, a mudança que queremos para o mundo”.



OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA. O QUE É ISSO?
Por Nelza Lau


Vocês conhecem o conceito Obsolescência Programada ? Basta pensar em uma situação, bem recorrente: sua lavadora de roupa estraga; você a leva para o conserto, mas o orçamento fica tão caro que vale mais a pena comprar uma nova! O motivo de o equipamento antigo ficar obsoleto é a Obsolescência Programada, isto é, o equipamento chegou ao limite de vida útil programado pelo próprio fabricante.

Encontrei o histórico na enciclopédia livre Wikipédia, que demonstra que o conceito é antigo e que permeia nossa vida há muito tempo:

Obsolescência programada é o nome dado à vida curta de um bem ou produto projetado de forma que sua durabilidade ou funcionamento se dê apenas por um período reduzido. A obsolescência programada faz parte de um fenômeno industrial e mercadológico surgido nos países capitalistas nas décadas de 1930 e 1940 conhecido como "descartalização". Faz parte de uma estratégia de mercado que visa garantir um consumo constante através da insatisfação, de forma que os produtos que satisfazem as necessidades daqueles que os compram parem de funcionar ou tornem-se obsoletos em um curto espaço de tempo, tendo que ser obrigatoriamente substituídos de tempos em tempos por mais modernos.
A obsolescência programada foi criada, na década de 1920, pelo então presidente da General Motors Alfred Sloan. Ele buscou atrair os consumidores a trocar de carro frequentemente, tendo como apelo a mudança anual de modelos e acessórios. Bill Gates, fundador da Microsoft, também adotou esta estratégia de negócio nas atualizações do Windows. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Obsolesc%C3%AAncia_programada)
Muito provavelmente, em 1920 e nas décadas de 30 e 40, isto foi de fundamental importância para o desenvolvimento econômico e social do mundo como o conhecemos (industrialização, geração de empregos, produção de riquezas, etc.). Porém, atualmente é assustador perceber que tudo que a sociedade descarta (máquinas de lavar, geladeiras, automóveis, celulares, baterias, etc.) vai parar “não-se-sabe-bem-onde”. Estamos chegando perigosamente no limite de regeneração planetária graças ao acúmulo de lixo sem precedentes na história da humanidade.

        Mudança de Paradigma

        Considerando um paradigma como um conjunto de opiniões, conceitos e práticas que guiam a ação humana, a limitação física do planeta e a conseqüente percepção de que os recursos são esgotáveis e/ou não se renovam na mesma quantidade/velocidade em que são consumidos e descartados pode ser vista como um paradigma emergente. Uma das mudanças essenciais para a constituição deste novo paradigma é a percepção de que o homem não mais pode ser visto como um elemento alheio à natureza. Outra se refere à substituição do senso predominante de abundância por um senso de escassez ou de limitação de recursos. Este último apresenta-se como um desafio enorme, uma vez que a sociedade capitalista está evoluindo exatamente no sentido oposto, de valorizar e de adotar o consumismo selvagem cada vez mais.  Por sua parte, os consumidores não são conscientes ainda do preço que pagam pelo custo da poluição e, exceto certos consumidores de alguns países desenvolvidos, a maioria deles não percebe a extensão dos danos que o consumismo pode provocar.

        Mas o meio ambiente é assunto de direitos humanos, assim como a liberdade de expressão, e já é tempo de os países desenvolvidos enfrentarem decididamente esse problema - sob o risco de vê-lo crescer cada vez mais e mais rapidamente. Antes de tudo é importante e urgente que o poder público elabore uma legislação específica que cubra o ciclo completo – da fabricação dos produtos especialmente os E-waste (*), ao descarte seguro do lixo.
·    E-waste é o nome genérico atribuído aos aparelhos eletrônicos ou computadores descartados. Esses itens possuem diferentes origens e abrangem televisores, computadores, telefones, aparelhos de ar condicionado, celulares e brinquedos eletrônicos, além de elevadores, geladeiras, lava-louças, secadoras, equipamentos para cozinha e até aviões.
       Bem, as idéias postadas acima são frutos dos estudos e concepções dos membros da Távola Redonda. O objetivo é semear a reflexão na mente de todo internauta cedento por conhecimento e preocupado com o bem estar do planeta. Resta partir para atitudes mais objetivas e imeditas, afinal, não existe outro planeta água ou um plano B.



Távola Redonda
Nelza Lau, Romeu Fernando Waechert e Heitor Jorge Lau

terça-feira, 27 de março de 2012

O SIGNIFICADO DA SABEDORIA

    Em 1533 nasceu Michel Eyquem, que não era nobre, mas detinha considerável posse de terras para a época. Tanto que ele chegou a ser prefeito de Bordeaux, França. Em seus escritos utilizou a alcunha de Michel [Seigneur] de Montaigne. Reza a lenda que em 1569 ele teria sofrido uma queda de um cavalo, fato que o fez contemplar a possibilidade da própria morte, nascendo assim o seu projeto autobiográfico: Ensaios. 


    Montaigne utilizou o termo “ensaio” porque nas variadas abordagens que efetuou dizia se tratar de tentativas, e não exposições de caráter definitivo. Ele afirmava não ser digno de ser considerado um sábio, como os da antiguidade e que estava longe disto. Mas era neles que encontrava a inspiração para escrever. Desta forma, justamente por não ser um especialista mesmo sendo dotado de muita sabedoria e conhecimento, Montaigne revelou-se o sábio mais humilde da história da humanidade. 

   
    Montaigne desvelou praticamente todos os escopos de preocupações do ser humano. 

    Um pouco de sua sabedoria: 


- Quero que me vejam aqui em meu modo simples, natural e coerente, sem pose nem artifício: pois é a mim que retrato. 


* Sua definição de projeto: - É um registro de ocorrências diversas e mutáveis, de idéias indecisas, e se calhar, contrárias.

* Contrariando Maquiavel, declarou: - Mesmo se pudesse me fazer temido, gostaria mais ainda de me fazer amado. - Quem impõe seu discurso como um desafio e um comando mostra que sua razão é fraca.

- Não há nenhum mal na vida para aquele que bem compreendeu que a privação da vida não é um mal.

- É descortês e inoportuno criticar tudo o que não é de nosso gosto.

* Pondera sobre os limites do conhecimento: - É uma ousadia perigosa de grande conseqüência desprezar o que não compreendemos.

- Não sei arte nem ciência, mas sou filósofo.

- É obrigado a agir mal no varejo quem quiser agir bem no atacado, e a cometer injustiça nas pequenas coisas quem quiser fazer justiça nas grandes.

- Não há nada tão belo e legítimo quanto agir como um homem deve agir, nem ciência tão árdua como saber viver esta vida.


    Sabedoria da Távola Redonda: - O grande desafio do ser humano é reconstruir tudo que aprendeu antes e durante o seu encontro com a maturidade intelectual, cultural e emocional.



Távola Redonda
Nelza Lau, Romeu Fernando Waechert e Heitor Jorge Lau

segunda-feira, 19 de março de 2012

INTERNET: ALIADA ou VILÃ DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS?



      Olá!

    Na sexta-feira, 16 de março, nosso grupo reuniu-se para debater um tema bastante polêmico e controverso: Relações na Internet
. O foco principal foi discutir a respeito dos benefícios ou malefícios que o recurso tecnológico oferece ou provoca. Abaixo está o resumo de nosso longo papo a respeito, descrito em formato de tópicos. Boa leitura!

* Pesquisas fragmentadas
  Existem muitas pesquisas apontando a predominância de aspectos negativos do uso da internet, contudo, nenhuma delas analisou todas as suas formas de utilização simultaneamente e muito menos de forma empírica. As relações virtuais acontecem em diversos cenários e contextos, portanto, afirmar que as relações, de modo geral, se deterioram a partir do contato virtual, significa opinar sob a ótica da generalização e especulação.

* Compulsividade e desvios de conduta REAIS
  Os desvios de conduta vinculados as dificuldades do controle de determinados impulsos podem sofrer um aumento gradual através do uso excessivo da Internet, pelo simples fato de coexistir a possibilidade de satisfação instantânea destes mesmos impulsos. Isto proporciona isenção de qualquer tentativa de solucionar problemas de compulsividade. A saciedade é virtual e utópica, mas geradora de expectativas gradativamente mais acentuadas. Acreditamos que a Internet não ocasiona a depressão ou qualquer outro tipo de desvio, todavia, são os indivíduos depressivos e/ou com algum tipo de desvio emocional que recorrem na maioria das vezes, à Internet de forma compulsiva e dependente.


* Invasão de privacidade
  A invasão de privacidade está longe de ser tipicamente configurada por um enxerido adentrando nos limitrofes-privados-físicos. O acesso pela internet, principalmente pelas redes sociais também possibilita a intromissão, com a diferença de ser virtual. Incialmente o ato de intrometer pode permanecer nos horizontes do virtual, mas, estudos e estatísticas (sérias) comprovam que danos físicos e emocionais podem migrar para o real por intermédio do assédio cibernético. A pedofilia está dentre os riscos mais sérios e presentes nas redes. Crianças, pré-adolescentes, adolescentes estão a mercê de pessoas com desvios patológicos seríssimos. É notório o fato de que os "pequenos internautas" navegam sob o prisma da privacidade de espaço, seja no âmbito familiar ou em alguma lan. Em ambos os casos, o olhar dos responsáveis passa muito longe dos acontecimentos. A questão levanta uma reflexão a ser feita: cabe aos pais policiarem seus  filhos a ponto de compartilharem toda espécie de contato virtual ou sua responsabilidade resume-se em apenas orientar? Talvez, ambos os casos. Acreditamos que as relações familiares devam ser muito bem constituídas e mantidas porque assim os filhos saberão que sempre poderão contar com o apoio da família, seja qual for a circunstância.


* Relações conjugais
  Especialistas matrimoniais afirmam que ocorreu um aumento exponencial de dissoluções matrimoniais devido ao estabelecimento de casos “extraconjugais cibernéticos”. Resta refletir se o rompimento das relações ocorreu por motivos ligados ao ciberespaço ou se a relação de cumplicidade e autenticidade do casal (ideal para a sustentabilidade da relação) não possuía bases suficientes para manter o matrimônio.

* Laços afetivos
  Os laços delineados e concretizados a partir do ciberespaço referem-se tão somente a uma comunhão de interesses ou preferências, porém, não preenchem verdadeiramente, carências do ponto de vista emocional, se comparados com os laços concretos constituídos pelas relações sociais (físicas) familiares. Contudo, cabe a cada crítico avaliar a sua concepção do verdadeiro sentido conotativo da palavra “proximidade”. Estar próximo de alguém não significa estar presente fisicamente, face-a-face, pelo contrário, proximidade é proveniente de estados emocionais sutis e profundos com relação a outrem.

* Aspectos positivos das interações
  Ao que concerne ao caráter do anonimato das relações constituídas na Internet, todo internauta poderá experimentar incontáveis novas formas de ser, pertencer e de estar (relação estar para o mundo assim como mundo está para mim), através da incorporação de novas identidades, com a nítida vantagem de não haver fronteiras concernentes a custos sociais ou espaciais para tal. Sempre existiram verdadeiros abismos interpostos às tentativas de relacionamento entre classes desniveladas pelo caráter socioeconômico e geográfico. A Internet propicia o fim das determinações preconceituosas e pré-definidas.

    Entre as várias leituras que fizemos para formar uma opinião sobre os estudos que existem a respeito dos usos saudáveis ou patológicos da internet, uma frase sintetiza o assunto: "Não importa que a aventura seja louca, desde que o aventureiro seja lúcido". Acreditamos que para avaliar se o uso da internet é benéfico ou prejudicial, é necessário saber mais sobre o contexto do internauta em questão. Este tipo de investigação tende a ser mais relevante do que julgar isoladamente o tempo em que ele fica conectado. É importante ressaltar, que o uso habitual e contínuo da Internet não é, necessariamente, danoso. Ele pode ser até saudável. Inclusive, há vários elementos sociais positivos facilitados pela Internet, como por exemplo, o estabelecimento de novas relações entre pessoas, o encontro romântico de pessoas com afinidades entre si e a possibilidade de se estabelecerem relações interpessoais à distância. A dificuldade maior no diagnóstico do uso compulsivo da Internet diz respeito aos limites entre o uso inócuo e sadio e o aparecimento de conseqüências danosas advindas dessa atividade exercida em excesso.

    É recomendável lembrar que as preocupações em relação ao uso da Internet devem ter a mesma relevância que o uso excessivo de qualquer outra tecnologia, a qualquer outro dispositivo eletrônico, tais como a televisão, o celular, videojogos e outros que prejudiquem o convívio familiar ou outras atividades presenciais. E por fim, não há dúvidas de que a Internet trouxe consigo numerosos benefícios para a sociedade, na medida em que melhorou e facilitou a comunicação e obtenção de informação. Entretanto, esse desenvolvimento não está isento de riscos e aspectos negativos, entre eles o risco de compulsão em pessoas que independente da internet, são vulneráveis à compulsão.

* Considerações finais
  Particularmente, não acreditamos na visão simplista do estar on-line ou off-line, ser real ou virtual, porque afinal das contas, seria de extrema ingenuidade considerar que somente as relações “off-line” é que podem, verdadeiramente, ser admitidas como amizades “reais”. O uso do ciberespaço é fato, e ninguém pode ignorar que os avanços da humanidade não procedem a passos para a retaguarda. O desafio do ser humano está justamente em aliar os progressos tecnológicos, sejam eles eletrônicos ou não, ao seu cotidiano de forma consciente, benéfica e vantajosa.

    Respondendo a questão: - você acha que a internet trouxe benefícios às relações sociais?
  - Sim, acreditamos fielmente que sim!

    Aqueles que já mantinham a prática do contato pessoal agregaram mais um aliado aos processos comunicacionais; e para quem tinha dificuldades ou não possuía tal hábito, eis uma forma de diluir medos e recalques. Porque, se a Internet inexistisse, sem sombras de dúvida, o ser humano encontraria outro repositório (culpado) para o seu repertório de ansiedades, depressões e carências. Afinal, isto é típico do ser humano.
Távola Redonda
Nelza Lau, Romeu Fernando Waechert e Heitor Jorge Lau