terça-feira, 17 de abril de 2012

CIÊNCIA e RELIGIÃO

Olá!

Sexta-feira 13, uma nova temática instigadora de perguntas e respostas: Ciência &  Religião.


A Távola Redonda reuniu-se novamente para colocar "na mesa" suas idéias e opiniões, sempre fundamentadas por diversas óticas, e na tentativa de mantê-las imunes a tentação da resposta final. O tema rendeu discursos interessantes e acalorados. Esta é a síntese. 





A Religião e a Vida Virtuosa

Aparentemente, o que nos move para uma religião, é a necessidade intrínseca de nos conectar com o sagrado. Creio que é da natureza humana desejar a vida eterna e isto, de certa forma, demonstra amor pela vida. Idéias filosóficas - sobre a morada da alma após a morte, por exemplo, são praticamente universais e podemos encontrar suas origens na pré-história: os homens de Neanderthal tinham rituais de sepultamento que sugerem uma crença de continuidade da vida após a morte.

Nos 1.900 anos que antecederam Jesus Cristo, encontraremos pelos menos trinta filósofos expressivos, predominantemente gregos, que se preocupavam em criar hipóteses que dessem sentido à vida humana. Alguns exemplos: Tales, Pitágoras, Heráclito, Sócrates, Aristóteles, Platão e Epícuro (todos gregos); Láo-tsé e Confúcio (chineses); Sidarta Gautama, o Buda (indiano); Zoroastro (persa), fundador do Zoroastrismo, que defendia uma vigorosa noção de bem e do mal, considerada a primeira manifestação de monoteísmo ético. Segundo historiadores da religião, algumas das concepções do Zoroastrismo - a crença no paraíso, na ressurreição, no juízo final e na vinda de um messias - viriam a influenciar outras religiões, inclusive o cristianismo.

Podemos encerrar este exercício histórico pelos hebreus, outra pujante força filosófica no mundo antigo, citando Abraão (1900 a.C.), Moises (1220-1200 a.C.), Davi (1013-973 a.C.) e Jesus Cristo (5 a.C. – 30 d.C.). Os hebreus antigos, com suas concepções de um Deus único e da lei dada por Ele, “armaram o palco para a civilização ocidental” um milhar de anos antes de Cristo. Talvez não haja um filósofo hebreu singular (antes de Jesus) que tenha alcançado a estatura de Confúcio, Buda ou Sócrates, mas os antigos pensadores hebreus nos deixaram um dos mais influentes livros da história – a Bíblia hebraica, ou o “ Antigo Testamento”.

As igrejas devem sua origem a mestres dotados de fortes convicções individuais, mas tais mestres raramente tiveram influência sobre as igrejas que fundaram, enquanto que as igrejas tiveram enorme influencia sobre as comunidades em que floresceram. Nada há de acidental quanto a essa diferença entre uma igreja e o seu fundador. Logo que se supõe que a palavra de certos homens contém a verdade absoluta, surge um corpo de especialistas para interpretar seus ensinamentos, e tais especialistas adquirem, infalivelmente, poder, já que possuem a “chave da verdade”. Como qualquer outra casta privilegiada, usam de seu poder em benefício próprio.

A religião, antes de tudo, é um fenômeno social - é possível perceber que somos herdeiros de um mix de concepções religiosas advindas de vários mestres, catalogadas por um corpo de especialistas.

Tradicionalmente a vida religiosa era, por assim dizer, um diálogo entre a alma e Deus. Obedecer à vontade de Deus era virtude – e isso era possível ao individuo sem que levasse em conta a situação da comunidade. Esse individualismo da alma, isoladamente, teve o seu valor em certas fases da história. O cristianismo surgiu, no império romano, entre populações inteiramente destituídas de poder politico, cujos estados nacionais haviam sido destruídos e fundidos em vastos e impessoais agregados humanos. Durante os primeiros três séculos da era cristã, os indivíduos que adotavam o cristianismo não podiam modificar as instituições sociais ou politicas sob as quais viviam, embora estivessem profundamente convencidos de que eram más. Nessas circunstâncias, era natural que adotassem a crença de que um indivíduo poderia ser perfeito num mundo imperfeito, e que a vida virtuosa nada tinha a ver com este mundo.

Em um mundo globalizado, a meu ver, um dos defeitos da religião tradicional é o seu individualismo, pois hoje precisamos mais de uma concepção social do que individual.

No que se refere ao bem-estar da comunidade, podemos também encontrar referencial no mundo antigo. Tomemos por exemplo, Platão que quando quis descrever a vida virtuosa, descreveu toda uma comunidade, e não um indivíduo; fê-lo a fim de definir o que era justiça, que é um conceito inteiramente social. Ele estava habituado à cidadania de uma república, e a responsabilidade política era algo que encarava como fato estabelecido.

A vida virtuosa, agora revisada, exige um número enorme de condições sociais e não pode realizar-se sem eles. É uma vida inspirada pelo amor e guiada pelo conhecimento. Para viver uma vida satisfatória no seu mais amplo sentido, o homem precisa ter uma boa educação, amigos, amor, filhos (se os desejar), uma renda suficiente que o mantenha distante de necessidades e de graves preocupações, boa saúde e trabalho que não lhe seja desinteressante. Todas essas coisas, em graus diversos, dependem da comunidade, e são favorecidas ou impedidas por acontecimentos políticos. A vida satisfatória tem que ser vivida numa boa sociedade, e não pode ser vivida amplamente de outro modo. Não adianta mais querer salvar apenas a própria alma, é preciso olhar a coletividade.
Por Nelza Lau


Ciência e Religião

Não é porque Immanuel Kant redigiu a “Crítica da Razão Pura” que a existência de Deus ou da religião deve ser riscada do rol de possibilidades reais - ou pode?

É interessante como estas questões permanecem em pauta há tanto tempo e por sinal continuarão nos anais da história da humanidade. A ciência que trata do assunto sob um olhar objetivo e singularmente racional, “defronta-se” praticamente com todas as religiões existentes no planeta porque estas tratam o mesmo assunto e a busca por repostas sob a ótica da subjetividade pura.

A “peleja” entre pontos de vista divergentes acontece há séculos e no final das contas, tudo que se argumenta, culmina muito mais na natureza das provas existentes do que sobre a existência de Deus e a importância das religiões para as sociedades. Esta dúvida inquietante, porém instigante, provoca uma curiosidade latente por respostas.

1º O que é religião? Religião, termo oriundo do latim religare, significa religação com o divino. Mas afinal, qual o significado da palavra divino? Divino significa excelente, maravilhoso, divinal... Então, religar ou tornar a manter contato com o maravilhoso é transcender a visão de mundo sob um prisma extremamente particular e único. Seria pertinente considerar esta conexão, de caráter estritamente pessoal, como o reencontro com a espiritualidade, ao contrário da compreensão habitual sobre a religião como puramente sinônimo de fé. Seria razoável, portanto, ao invés do questionamento sobre o que vem a ser religião, indagar o que caracteriza as aspirações de um ser humano que dá a impressão de ser religiosa.

2º O que é ciência? Não é preciso empreender muito esforço intelectual para concluir sobre o que vem a ser ciência. Ciência é o esforço secular de reunir por intermédio do pensar sistêmico, fenômenos perceptíveis “deste mundo”, formando uma concepção mais completa quanto possível. Em outras palavras, é a tentativa de reconstrução posterior da existência, através do processo da conceituação.

Bem, ao conceber a religião e a ciência conforme estas colocações, um conflito iminente entre elas pareceria praticamente impossível, pois a ciência pode apenas determinar o que é, e não o que deve ser. Por conseguinte, a ciência sem a religião é aleijada, e por outro lado, a religião sem a ciência é cega.

Desta forma, adentramos superficialmente nas regularidades que prevalecem no âmbito das coisas vivas, porém, o suficiente para perceber a existência de uma regra necessária. Por esta razão o diálogo entre ciência e religião só poderá acontecer no contexto do entendimento, mas jamais no cenário dos fundamentos. Portanto, “nem tão terra”, “nem tão céu”, porque o certo mesmo, é que o diálogo entre a ciência e religião serve para que surja uma "fé racional", deixando radicalmente de lado o literalismo bíblico e “Crítica da Razão Pura”.
Por Heitor Jorge Lau


RELIGIÃO versus MASS MíDIA


            Não é preciso muito esforço para provocar a lembrança de que há pouco tempo especulava-se que a religião estaria com os dias contatos em decorrência dos avanços tecnológicos e intelectuais da contemporaneidade. Notoriamente percebe-se que a tecnologia, bem como o acesso e a disponibilidade da informação, elevou o repensar de tudo que já foi um dia para patamares mais vanguardistas. Contudo, tudo isto não foi motivo suficiente para o abandono das práticas religiosas, ao contrário, ocorreu um acréscimo considerável da diversidade de religiões. A multiplicidade de religiões representa a “religião da modernidade” e o ajuste das suas respectivas práticas diante dos anseios da sociedade moderna.


            Não se sabe ao certo se a proliferação de outras religiões é fruto de outros pontos de vista desencadeados por elas mesmas ou se este fenômeno é oriundo do desencantamento das pessoas pelas religiões “tradicionais”. Mas é possível concluir que a tecnologia, mais especificamente a internet, contribuiu e continua contribuindo para a disseminação de idéias e ideais religiosos. Este instrumento midiático contemporâneo revitalizou e agregou potencial aos discursos que objetivam arregimentar mais simpatizantes e “ovelhas ao rebanho”.


            A premissa de que os fiéis estariam “automaticamente convertidos” a qualquer conceito religioso por ausência de opção cedeu espaço a escolha e adesão espontânea. Qual o significado disto? Isto representa que a “religiosidade moderna (atual)” tem sido delineada por influências midiáticas outrora inimagináveis. Agora, com o imponente advento da Mass Mídia - Mídias de Massa -, cada indivíduo permanece à mercê do discurso e apelo mais convincente (que vá ao encontro das necessidades emocionais, espirituais e até mesmo físicas).


            Assim, para cada público de interesse existe um discurso adequado, ou seja, o semear de palavras de esperança e fé encontram ancoradouro na seara das populações mais necessitadas. Há quem condene ou critique negativamente a prática midiática nos contextos religiosos, mas é pertinente e razoável, diante da pluralidade religiosa existente, reconhecer que tal adequação é tão natural e normal quanto qualquer outra em “tempos modernos”. O uso da comunicação objetiva, teatral e simplória, sistematicamente constituída, coloca a “palavra religiosa midiática” em pé de igualdade de competitividade com os demais programas existentes.
            Portanto, o fato concreto de tudo que foi exposto é que o Brasil, país com alto grau de miscigenação, é capaz de comportar identidades católicas e protestantes; tradições afro-brasileiras ortodoxas como candomblé e umbanda; variações sincréticas híbridas ou imaginárias; ou grupos contemporaneamente denominados de New Age – Nova Era, entre outros tantos. Diante deste fato incontestável a razoabilidade nos remete ao aceite da conjunção pacífica e permissiva das religiões e ferramentas de Mass Mídia.

Por Romeu Fernando Waechter & Heitor Jorge Lau

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