quarta-feira, 18 de abril de 2012

OS LIMIARES DO CONHECIMENTO CONSCIENTE


"O homem, como podemos perceber ao refletirmos um instante, nunca percebe plenamente uma coisa ou a entende por completo. Ele pode ver, ouvir, tocar e provar. Mas a que distância pode ver quão acuradamente consegue ouvir, o quanto lhe significa aquilo em que toca, e o que prova tudo isso depende do número e da capacidade dos seus sentidos. Os sentidos do homem limitam a percepção que este tem do mundo à sua volta. Utilizando instrumentos científicos pode, em parte, compensar a deficiência dos sentidos. Consegue, por exemplo, alongar o alcance da sua visão através do binóculo ou apurar a audição por meio de amplificadores elétricos. Mas, a mais elaborada aparelhagem nada pode fazer além de trazer ao seu âmbito visual objetos ou muito distantes, ou muito pequenos e tornar mais audíveis sons fracos. Não importa que instrumentos ele empregue; em um determinado momento há de chegar a um limite de evidências e de convicções que o conhecimento consciente não pode transpor."
Carl Gustave Jung

Postado por Távola Redonda

terça-feira, 17 de abril de 2012

CIÊNCIA e RELIGIÃO

Olá!

Sexta-feira 13, uma nova temática instigadora de perguntas e respostas: Ciência &  Religião.


A Távola Redonda reuniu-se novamente para colocar "na mesa" suas idéias e opiniões, sempre fundamentadas por diversas óticas, e na tentativa de mantê-las imunes a tentação da resposta final. O tema rendeu discursos interessantes e acalorados. Esta é a síntese. 





A Religião e a Vida Virtuosa

Aparentemente, o que nos move para uma religião, é a necessidade intrínseca de nos conectar com o sagrado. Creio que é da natureza humana desejar a vida eterna e isto, de certa forma, demonstra amor pela vida. Idéias filosóficas - sobre a morada da alma após a morte, por exemplo, são praticamente universais e podemos encontrar suas origens na pré-história: os homens de Neanderthal tinham rituais de sepultamento que sugerem uma crença de continuidade da vida após a morte.

Nos 1.900 anos que antecederam Jesus Cristo, encontraremos pelos menos trinta filósofos expressivos, predominantemente gregos, que se preocupavam em criar hipóteses que dessem sentido à vida humana. Alguns exemplos: Tales, Pitágoras, Heráclito, Sócrates, Aristóteles, Platão e Epícuro (todos gregos); Láo-tsé e Confúcio (chineses); Sidarta Gautama, o Buda (indiano); Zoroastro (persa), fundador do Zoroastrismo, que defendia uma vigorosa noção de bem e do mal, considerada a primeira manifestação de monoteísmo ético. Segundo historiadores da religião, algumas das concepções do Zoroastrismo - a crença no paraíso, na ressurreição, no juízo final e na vinda de um messias - viriam a influenciar outras religiões, inclusive o cristianismo.

Podemos encerrar este exercício histórico pelos hebreus, outra pujante força filosófica no mundo antigo, citando Abraão (1900 a.C.), Moises (1220-1200 a.C.), Davi (1013-973 a.C.) e Jesus Cristo (5 a.C. – 30 d.C.). Os hebreus antigos, com suas concepções de um Deus único e da lei dada por Ele, “armaram o palco para a civilização ocidental” um milhar de anos antes de Cristo. Talvez não haja um filósofo hebreu singular (antes de Jesus) que tenha alcançado a estatura de Confúcio, Buda ou Sócrates, mas os antigos pensadores hebreus nos deixaram um dos mais influentes livros da história – a Bíblia hebraica, ou o “ Antigo Testamento”.

As igrejas devem sua origem a mestres dotados de fortes convicções individuais, mas tais mestres raramente tiveram influência sobre as igrejas que fundaram, enquanto que as igrejas tiveram enorme influencia sobre as comunidades em que floresceram. Nada há de acidental quanto a essa diferença entre uma igreja e o seu fundador. Logo que se supõe que a palavra de certos homens contém a verdade absoluta, surge um corpo de especialistas para interpretar seus ensinamentos, e tais especialistas adquirem, infalivelmente, poder, já que possuem a “chave da verdade”. Como qualquer outra casta privilegiada, usam de seu poder em benefício próprio.

A religião, antes de tudo, é um fenômeno social - é possível perceber que somos herdeiros de um mix de concepções religiosas advindas de vários mestres, catalogadas por um corpo de especialistas.

Tradicionalmente a vida religiosa era, por assim dizer, um diálogo entre a alma e Deus. Obedecer à vontade de Deus era virtude – e isso era possível ao individuo sem que levasse em conta a situação da comunidade. Esse individualismo da alma, isoladamente, teve o seu valor em certas fases da história. O cristianismo surgiu, no império romano, entre populações inteiramente destituídas de poder politico, cujos estados nacionais haviam sido destruídos e fundidos em vastos e impessoais agregados humanos. Durante os primeiros três séculos da era cristã, os indivíduos que adotavam o cristianismo não podiam modificar as instituições sociais ou politicas sob as quais viviam, embora estivessem profundamente convencidos de que eram más. Nessas circunstâncias, era natural que adotassem a crença de que um indivíduo poderia ser perfeito num mundo imperfeito, e que a vida virtuosa nada tinha a ver com este mundo.

Em um mundo globalizado, a meu ver, um dos defeitos da religião tradicional é o seu individualismo, pois hoje precisamos mais de uma concepção social do que individual.

No que se refere ao bem-estar da comunidade, podemos também encontrar referencial no mundo antigo. Tomemos por exemplo, Platão que quando quis descrever a vida virtuosa, descreveu toda uma comunidade, e não um indivíduo; fê-lo a fim de definir o que era justiça, que é um conceito inteiramente social. Ele estava habituado à cidadania de uma república, e a responsabilidade política era algo que encarava como fato estabelecido.

A vida virtuosa, agora revisada, exige um número enorme de condições sociais e não pode realizar-se sem eles. É uma vida inspirada pelo amor e guiada pelo conhecimento. Para viver uma vida satisfatória no seu mais amplo sentido, o homem precisa ter uma boa educação, amigos, amor, filhos (se os desejar), uma renda suficiente que o mantenha distante de necessidades e de graves preocupações, boa saúde e trabalho que não lhe seja desinteressante. Todas essas coisas, em graus diversos, dependem da comunidade, e são favorecidas ou impedidas por acontecimentos políticos. A vida satisfatória tem que ser vivida numa boa sociedade, e não pode ser vivida amplamente de outro modo. Não adianta mais querer salvar apenas a própria alma, é preciso olhar a coletividade.
Por Nelza Lau


Ciência e Religião

Não é porque Immanuel Kant redigiu a “Crítica da Razão Pura” que a existência de Deus ou da religião deve ser riscada do rol de possibilidades reais - ou pode?

É interessante como estas questões permanecem em pauta há tanto tempo e por sinal continuarão nos anais da história da humanidade. A ciência que trata do assunto sob um olhar objetivo e singularmente racional, “defronta-se” praticamente com todas as religiões existentes no planeta porque estas tratam o mesmo assunto e a busca por repostas sob a ótica da subjetividade pura.

A “peleja” entre pontos de vista divergentes acontece há séculos e no final das contas, tudo que se argumenta, culmina muito mais na natureza das provas existentes do que sobre a existência de Deus e a importância das religiões para as sociedades. Esta dúvida inquietante, porém instigante, provoca uma curiosidade latente por respostas.

1º O que é religião? Religião, termo oriundo do latim religare, significa religação com o divino. Mas afinal, qual o significado da palavra divino? Divino significa excelente, maravilhoso, divinal... Então, religar ou tornar a manter contato com o maravilhoso é transcender a visão de mundo sob um prisma extremamente particular e único. Seria pertinente considerar esta conexão, de caráter estritamente pessoal, como o reencontro com a espiritualidade, ao contrário da compreensão habitual sobre a religião como puramente sinônimo de fé. Seria razoável, portanto, ao invés do questionamento sobre o que vem a ser religião, indagar o que caracteriza as aspirações de um ser humano que dá a impressão de ser religiosa.

2º O que é ciência? Não é preciso empreender muito esforço intelectual para concluir sobre o que vem a ser ciência. Ciência é o esforço secular de reunir por intermédio do pensar sistêmico, fenômenos perceptíveis “deste mundo”, formando uma concepção mais completa quanto possível. Em outras palavras, é a tentativa de reconstrução posterior da existência, através do processo da conceituação.

Bem, ao conceber a religião e a ciência conforme estas colocações, um conflito iminente entre elas pareceria praticamente impossível, pois a ciência pode apenas determinar o que é, e não o que deve ser. Por conseguinte, a ciência sem a religião é aleijada, e por outro lado, a religião sem a ciência é cega.

Desta forma, adentramos superficialmente nas regularidades que prevalecem no âmbito das coisas vivas, porém, o suficiente para perceber a existência de uma regra necessária. Por esta razão o diálogo entre ciência e religião só poderá acontecer no contexto do entendimento, mas jamais no cenário dos fundamentos. Portanto, “nem tão terra”, “nem tão céu”, porque o certo mesmo, é que o diálogo entre a ciência e religião serve para que surja uma "fé racional", deixando radicalmente de lado o literalismo bíblico e “Crítica da Razão Pura”.
Por Heitor Jorge Lau


RELIGIÃO versus MASS MíDIA


            Não é preciso muito esforço para provocar a lembrança de que há pouco tempo especulava-se que a religião estaria com os dias contatos em decorrência dos avanços tecnológicos e intelectuais da contemporaneidade. Notoriamente percebe-se que a tecnologia, bem como o acesso e a disponibilidade da informação, elevou o repensar de tudo que já foi um dia para patamares mais vanguardistas. Contudo, tudo isto não foi motivo suficiente para o abandono das práticas religiosas, ao contrário, ocorreu um acréscimo considerável da diversidade de religiões. A multiplicidade de religiões representa a “religião da modernidade” e o ajuste das suas respectivas práticas diante dos anseios da sociedade moderna.


            Não se sabe ao certo se a proliferação de outras religiões é fruto de outros pontos de vista desencadeados por elas mesmas ou se este fenômeno é oriundo do desencantamento das pessoas pelas religiões “tradicionais”. Mas é possível concluir que a tecnologia, mais especificamente a internet, contribuiu e continua contribuindo para a disseminação de idéias e ideais religiosos. Este instrumento midiático contemporâneo revitalizou e agregou potencial aos discursos que objetivam arregimentar mais simpatizantes e “ovelhas ao rebanho”.


            A premissa de que os fiéis estariam “automaticamente convertidos” a qualquer conceito religioso por ausência de opção cedeu espaço a escolha e adesão espontânea. Qual o significado disto? Isto representa que a “religiosidade moderna (atual)” tem sido delineada por influências midiáticas outrora inimagináveis. Agora, com o imponente advento da Mass Mídia - Mídias de Massa -, cada indivíduo permanece à mercê do discurso e apelo mais convincente (que vá ao encontro das necessidades emocionais, espirituais e até mesmo físicas).


            Assim, para cada público de interesse existe um discurso adequado, ou seja, o semear de palavras de esperança e fé encontram ancoradouro na seara das populações mais necessitadas. Há quem condene ou critique negativamente a prática midiática nos contextos religiosos, mas é pertinente e razoável, diante da pluralidade religiosa existente, reconhecer que tal adequação é tão natural e normal quanto qualquer outra em “tempos modernos”. O uso da comunicação objetiva, teatral e simplória, sistematicamente constituída, coloca a “palavra religiosa midiática” em pé de igualdade de competitividade com os demais programas existentes.
            Portanto, o fato concreto de tudo que foi exposto é que o Brasil, país com alto grau de miscigenação, é capaz de comportar identidades católicas e protestantes; tradições afro-brasileiras ortodoxas como candomblé e umbanda; variações sincréticas híbridas ou imaginárias; ou grupos contemporaneamente denominados de New Age – Nova Era, entre outros tantos. Diante deste fato incontestável a razoabilidade nos remete ao aceite da conjunção pacífica e permissiva das religiões e ferramentas de Mass Mídia.

Por Romeu Fernando Waechter & Heitor Jorge Lau

terça-feira, 3 de abril de 2012

GLOBALIZAÇÃO & SUSTENTABILIDADE

       Olá!


Para encerrar o mês de março, o grupo da Távola Redonda reuniu-se no dia 30, sexta-feira (como de costume), e discutiu descontraidamente sobre dois termos importantes e indissociáveis: Globalização e Sustentabilidade. Os textos a seguir estão distribuídos em três grandes blocos. * Primeiro - uma abordagem breve diante da relevância do assunto, sobre a Globalização. Neste momento, a palavra alteridade surgirá como figura complementar do tema. * Segundo: uma crítica sobre a sociedade de consumo que está afetando diretamente a sustentabilidade do planeta. * Terceiro: o consumo inconsciente dos produtos que já saem de fábrica com data de validade. Diga-se de passagem que não estamos falando sobre alimentos!


       O último encontro ocorreu no Restaurante Quiosque. Iniciamos nosso bate-papo no terraço mas a baixa temperatura nos "correu" para dentro do restaurante. É o outono chegando, brrrrrr. É um belíssimo local! Nos envolvemos tão rapidamente nas discussões que esquecemos de fazer o registro fotográfico. No próximo encontro não esqueceremos. Devido a diversidade de concepções e abordagens que cada participante proferiu sobre a temática em questão, optamos por postar o resumo redigido por cada um, ao invés de um resumo geral como nas postagens anteriores.

Então, vamos lá!




GLOBALIZAÇÃO, MULTICULTURALISMO E ALTERIDADE.
Por Romeu Fernando Waechter



O fenômeno da globalização é complexo porque instiga e acumula incontáveis transformações. Rafael Lóris traduz este acontecimento de forma muito clara:
“[...] Pode-se afirmar que consiste, em linhas gerais, em um fenômeno multidimensional, complexo e contraditório. Falando de modo geral, a globalização se refere em uma complexa série de eventos que tem redefinido a lógica de produção, consumo, comunicação e valores entre diferentes grupos de pessoas em todos os cantos do planeta”
Embora diversas civilizações da história da humanidade mantivessem contato entre si, a capacidade de culturas distantes interagirem de modo intenso foi tradicionalmente limitada. O comércio e as guerras eram os dois modos principais que ao longo da história levaram, pelo menos, setores específicos de praticamente todas as sociedades a viajar grandes distâncias. “Porém, para grande maioria da humanidade, contatos entersocietais eram muito superficiais e a necessidade de sua regulação era quase inexistente”.
A globalização proporcionou a gênese de novos conceitos dentro de contextos socialmente homogêneos. Isto se chama multiculturalismo. Multiculturalismo (ou pluralismo cultural) é um termo que descreve a existência de muitas culturas numa localidade, cidade ou país, sem a predominância de qualquer uma delas. Este modo “convivial” pode ser percebido como um verdadeiro “mosaico cultural”.
A doutrina multiculturalista enfatiza a idéia de que as culturas minoritárias são discriminadas, vistas como movimentos particulares, todavia, elas devem merecer reconhecimento público. Para se consolidarem, essas culturas singulares devem ser amparadas e protegidas pela lei. O multiculturalismo opõe-se ao que ele julga ser uma forma de etnocentrismo (visão de mundo da sociedade branca dominante que se toma por mais importante que as demais).
A política multiculturalista visa resistir à homogeneidade cultural, principalmente quando esta homogeneidade é considerada única e legítima, submetendo outras culturas a particularismos e dependência. Sociedades pluriculturais coexistiram em todas as épocas, e hoje, estima-se que apenas 10% a 15% dos países sejam etnicamente homogêneos.
Charles Taylor, autor de Multiculturalismo, Diferença e Democracia, acredita que toda política identitária não deveria ultrapassar a liberdade individual. Indivíduos, no seu entender, são únicos e não poderiam ser categorizados. Taylor definiu a democracia como a política do reconhecimento do outro, ou seja, da diversidade.
ALTERIDADE
No aspecto das relações interpessoais, a alteridade é um fenômeno cada vez mais debatido, pois existem sociedades heterogêneas com diversos seguimentos e paralelamente com diferentes identidades.
“Tentar compreender a alteridade, isto é, a relação com os outros, é um tema candente no cenário internacional contemporâneo. A xenofobia e o racismo, as guerras étnicas, o preconceito e os estigmas, a segregação e a discriminação baseadas na raça, na etnia, no gênero, na idade ou na classe social são todos os fenômenos amplamente disseminados no mundo, e que implicam em altos graus de violência. Todos eles são manifestações de não reconhecimento dos outros como seres humanos cabais, com os mesmos direitos que os nossos.” Por: Elisabeth Jelin, em Cidadania e Alteridade: o reconhecimento da pluralidade.
Alteridade seria, portanto, a capacidade de conviver com o diferente, de auto-proporcionar um olhar interior a partir das diferenças. Significa que “eu reconheço o outro” também como sujeito de iguais direitos. É exatamente essa constatação das diferenças que gera a alteridade.
Os indivíduos têm sido continuamente condicionados a manter-se extremamente fixados na valorização das suas diferenças individuais: força, inteligência, raça, gênero e poder. No sentido inverso à alteridade, a intolerância busca uma “solução”, de preferência imediata, para um problema e não um tratamento permanente, um caminho a ser seguido, principalmente com vistas a evitar sua repetição no futuro.
A intolerância, geralmente pela incapacidade de perceber o universo de inter-relações sociais e culturais determinantes de uma dada situação, exige um culpado para satisfazer um erro.
“O espírito de intolerância deve estar apoiado em razões muito más, já que por toda parte busca os menores pretextos”.
Por: Voltaire, em Tratado Sobre a Tolerância.



A DÉBIL SUSTENTABILIDADE DA SOCIEDADE DO CONSUMO
Por Heitor Jorge Lau

Cidadãos das mais diversificadas tribos têm dedicado uma fração de tempo das respectivas agendas para discutir sobre a iminente falência dos recursos renováveis e não renováveis do planeta. O termo “sustentabilidade” está ocupando um lugar de destaque nas pautas de reuniões acadêmicas, empresariais, e até mesmo das mesas de bar. Mas, fala-se em desmatamento, desperdício de recursos hídricos e exploração de recursos naturais em larga escala sem considerar que o consumo desenfreado e inconsciente da sociedade é o grande responsável pela inevitável catástrofe que não tardará a se apresentar.

A sociedade do consumo que figura como protagonista deste cenário de devastação ecológica encontra-se ilhada por sentimentos de fetichismo em relação a tudo que acena com a roupagem de moderno e inovador. Esta ânsia insana de comprar até mesmo o desnecessário transforma o ser humano em mercadoria, os quais mediam suas relações sociais pelo consumo de produtos, valores e até mesmo de aparências. A concepção de “ser alguém” cede lugar ao “ter para ser” gerando a falácia de que para ser um sujeito é preciso, antes de tudo, tornar-se uma mercadoria.

O excesso de “culturismo” pelo corpo ou por padrões estabelecidos como destacáveis na sociedade do consumo provoca na mente do consumidor a inquietude incessante e a preocupação atemporal com relação ao obsoleto e “marginalização social”. Marginalização no sentido de ser posto à margem da sociedade por não pertencer a classe dos indivíduos que, acima de qualquer valor, possuem para ser.

A premissa fundamental é posicionar-se de tal maneira que o sentimento de pertencimento social seja sacramentado instantaneamente. Este molde comportamental remete a percepção de todo consumidor para uma espécie de “isomorfismo”, ou seja, para a sensação de que a posse igualiza e equaliza a tudo e a todos.

Mas este sentimento utópico de pertencimento mascara o verdadeiro cenário em que se encontram os consumidores: uma sociedade fragmentada. São fragmentos de satisfação, de felicidade, de amizade, de pertencimento, de vida renovada. Esta quimera em que a sociedade do consumo vive lembra muito o quê Montaigne disse um dia: - Não há nenhum mal na vida para aquele que bem compreendeu que a privação da vida não é um mal.

Ao contrário do que ele declarou, a sociedade atual renega insistentemente a hipótese de sentir infelicidade. Desta forma, o consumo desenfreado de bens fúteis tornou-se institucionalizado, aceito como normal e não recriminável.

Toda abordagem anterior foi elaborada com o objetivo de estimular a reflexão acerca das ações que precisam ser feitas com vistas a estagnação do processo galopante de deterioração dos recursos naturais do planeta. O modus operantis adotado pela população mundial é comparável com o mesmo dos gafanhotos – consomem absolutamente tudo ao seu redor, de uma única fonte de fornecimento, sem preocupação com a regeneração do ambiente.

Cada produto levado para dentro de casa é proveniente da natureza, em outras palavras, cada um leva para dentro do lar um pedaço da natureza. Por esta razão maior é que o consumo inconsciente deve ser repensado, extinto. A humanidade está consumindo 30% a mais do que o planeta consegue repor em 01 ano e 20% da humanidade está consumindo 80% dos recursos naturais do planeta.

Mahatma Gandhi disse:
“A terra é capaz de satisfazer as necessidades de todos os homens, não a ganância” e “Sejamos nós, a mudança que queremos para o mundo”.



OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA. O QUE É ISSO?
Por Nelza Lau


Vocês conhecem o conceito Obsolescência Programada ? Basta pensar em uma situação, bem recorrente: sua lavadora de roupa estraga; você a leva para o conserto, mas o orçamento fica tão caro que vale mais a pena comprar uma nova! O motivo de o equipamento antigo ficar obsoleto é a Obsolescência Programada, isto é, o equipamento chegou ao limite de vida útil programado pelo próprio fabricante.

Encontrei o histórico na enciclopédia livre Wikipédia, que demonstra que o conceito é antigo e que permeia nossa vida há muito tempo:

Obsolescência programada é o nome dado à vida curta de um bem ou produto projetado de forma que sua durabilidade ou funcionamento se dê apenas por um período reduzido. A obsolescência programada faz parte de um fenômeno industrial e mercadológico surgido nos países capitalistas nas décadas de 1930 e 1940 conhecido como "descartalização". Faz parte de uma estratégia de mercado que visa garantir um consumo constante através da insatisfação, de forma que os produtos que satisfazem as necessidades daqueles que os compram parem de funcionar ou tornem-se obsoletos em um curto espaço de tempo, tendo que ser obrigatoriamente substituídos de tempos em tempos por mais modernos.
A obsolescência programada foi criada, na década de 1920, pelo então presidente da General Motors Alfred Sloan. Ele buscou atrair os consumidores a trocar de carro frequentemente, tendo como apelo a mudança anual de modelos e acessórios. Bill Gates, fundador da Microsoft, também adotou esta estratégia de negócio nas atualizações do Windows. (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Obsolesc%C3%AAncia_programada)
Muito provavelmente, em 1920 e nas décadas de 30 e 40, isto foi de fundamental importância para o desenvolvimento econômico e social do mundo como o conhecemos (industrialização, geração de empregos, produção de riquezas, etc.). Porém, atualmente é assustador perceber que tudo que a sociedade descarta (máquinas de lavar, geladeiras, automóveis, celulares, baterias, etc.) vai parar “não-se-sabe-bem-onde”. Estamos chegando perigosamente no limite de regeneração planetária graças ao acúmulo de lixo sem precedentes na história da humanidade.

        Mudança de Paradigma

        Considerando um paradigma como um conjunto de opiniões, conceitos e práticas que guiam a ação humana, a limitação física do planeta e a conseqüente percepção de que os recursos são esgotáveis e/ou não se renovam na mesma quantidade/velocidade em que são consumidos e descartados pode ser vista como um paradigma emergente. Uma das mudanças essenciais para a constituição deste novo paradigma é a percepção de que o homem não mais pode ser visto como um elemento alheio à natureza. Outra se refere à substituição do senso predominante de abundância por um senso de escassez ou de limitação de recursos. Este último apresenta-se como um desafio enorme, uma vez que a sociedade capitalista está evoluindo exatamente no sentido oposto, de valorizar e de adotar o consumismo selvagem cada vez mais.  Por sua parte, os consumidores não são conscientes ainda do preço que pagam pelo custo da poluição e, exceto certos consumidores de alguns países desenvolvidos, a maioria deles não percebe a extensão dos danos que o consumismo pode provocar.

        Mas o meio ambiente é assunto de direitos humanos, assim como a liberdade de expressão, e já é tempo de os países desenvolvidos enfrentarem decididamente esse problema - sob o risco de vê-lo crescer cada vez mais e mais rapidamente. Antes de tudo é importante e urgente que o poder público elabore uma legislação específica que cubra o ciclo completo – da fabricação dos produtos especialmente os E-waste (*), ao descarte seguro do lixo.
·    E-waste é o nome genérico atribuído aos aparelhos eletrônicos ou computadores descartados. Esses itens possuem diferentes origens e abrangem televisores, computadores, telefones, aparelhos de ar condicionado, celulares e brinquedos eletrônicos, além de elevadores, geladeiras, lava-louças, secadoras, equipamentos para cozinha e até aviões.
       Bem, as idéias postadas acima são frutos dos estudos e concepções dos membros da Távola Redonda. O objetivo é semear a reflexão na mente de todo internauta cedento por conhecimento e preocupado com o bem estar do planeta. Resta partir para atitudes mais objetivas e imeditas, afinal, não existe outro planeta água ou um plano B.



Távola Redonda
Nelza Lau, Romeu Fernando Waechert e Heitor Jorge Lau