
Olá!
Na sexta-feira, 16 de março, nosso grupo reuniu-se para debater um tema bastante polêmico e controverso: Relações na Internet. O foco principal foi discutir a respeito dos benefícios ou malefícios que o recurso tecnológico oferece ou provoca. Abaixo está o resumo de nosso longo papo a respeito, descrito em formato de tópicos. Boa leitura!
* Pesquisas fragmentadas
Existem muitas pesquisas apontando a predominância de aspectos negativos do uso da internet, contudo, nenhuma delas analisou todas as suas formas de utilização simultaneamente e muito menos de forma empírica. As relações virtuais acontecem em diversos cenários e contextos, portanto, afirmar que as relações, de modo geral, se deterioram a partir do contato virtual, significa opinar sob a ótica da generalização e especulação.
* Compulsividade e desvios de conduta REAIS
Os desvios de conduta vinculados as dificuldades do controle de determinados impulsos podem sofrer um aumento gradual através do uso excessivo da Internet, pelo simples fato de coexistir a possibilidade de satisfação instantânea destes mesmos impulsos. Isto proporciona isenção de qualquer tentativa de solucionar problemas de compulsividade. A saciedade é virtual e utópica, mas geradora de expectativas gradativamente mais acentuadas. Acreditamos que a Internet não ocasiona a depressão ou qualquer outro tipo de desvio, todavia, são os indivíduos depressivos e/ou com algum tipo de desvio emocional que recorrem na maioria das vezes, à Internet de forma compulsiva e dependente.
* Invasão de privacidade
A invasão de privacidade está longe de ser tipicamente configurada por um enxerido adentrando nos limitrofes-privados-físicos. O acesso pela internet, principalmente pelas redes sociais também possibilita a intromissão, com a diferença de ser virtual. Incialmente o ato de intrometer pode permanecer nos horizontes do virtual, mas, estudos e estatísticas (sérias) comprovam que danos físicos e emocionais podem migrar para o real por intermédio do assédio cibernético. A pedofilia está dentre os riscos mais sérios e presentes nas redes. Crianças, pré-adolescentes, adolescentes estão a mercê de pessoas com desvios patológicos seríssimos. É notório o fato de que os "pequenos internautas" navegam sob o prisma da privacidade de espaço, seja no âmbito familiar ou em alguma lan. Em ambos os casos, o olhar dos responsáveis passa muito longe dos acontecimentos. A questão levanta uma reflexão a ser feita: cabe aos pais policiarem seus filhos a ponto de compartilharem toda espécie de contato virtual ou sua responsabilidade resume-se em apenas orientar? Talvez, ambos os casos. Acreditamos que as relações familiares devam ser muito bem constituídas e mantidas porque assim os filhos saberão que sempre poderão contar com o apoio da família, seja qual for a circunstância.
* Relações conjugais
Especialistas matrimoniais afirmam que ocorreu um aumento exponencial de dissoluções matrimoniais devido ao estabelecimento de casos “extraconjugais cibernéticos”. Resta refletir se o rompimento das relações ocorreu por motivos ligados ao ciberespaço ou se a relação de cumplicidade e autenticidade do casal (ideal para a sustentabilidade da relação) não possuía bases suficientes para manter o matrimônio.
* Laços afetivos
Os laços delineados e concretizados a partir do ciberespaço referem-se tão somente a uma comunhão de interesses ou preferências, porém, não preenchem verdadeiramente, carências do ponto de vista emocional, se comparados com os laços concretos constituídos pelas relações sociais (físicas) familiares. Contudo, cabe a cada crítico avaliar a sua concepção do verdadeiro sentido conotativo da palavra “proximidade”. Estar próximo de alguém não significa estar presente fisicamente, face-a-face, pelo contrário, proximidade é proveniente de estados emocionais sutis e profundos com relação a outrem.
* Aspectos positivos das interações
Ao que concerne ao caráter do anonimato das relações constituídas na Internet, todo internauta poderá experimentar incontáveis novas formas de ser, pertencer e de estar (relação estar para o mundo assim como mundo está para mim), através da incorporação de novas identidades, com a nítida vantagem de não haver fronteiras concernentes a custos sociais ou espaciais para tal. Sempre existiram verdadeiros abismos interpostos às tentativas de relacionamento entre classes desniveladas pelo caráter socioeconômico e geográfico. A Internet propicia o fim das determinações preconceituosas e pré-definidas.
Entre as várias leituras que fizemos para formar uma opinião sobre os estudos que existem a respeito dos usos saudáveis ou patológicos da internet, uma frase sintetiza o assunto: "Não importa que a aventura seja louca, desde que o aventureiro seja lúcido". Acreditamos que para avaliar se o uso da internet é benéfico ou prejudicial, é necessário saber mais sobre o contexto do internauta em questão. Este tipo de investigação tende a ser mais relevante do que julgar isoladamente o tempo em que ele fica conectado. É importante ressaltar, que o uso habitual e contínuo da Internet não é, necessariamente, danoso. Ele pode ser até saudável. Inclusive, há vários elementos sociais positivos facilitados pela Internet, como por exemplo, o estabelecimento de novas relações entre pessoas, o encontro romântico de pessoas com afinidades entre si e a possibilidade de se estabelecerem relações interpessoais à distância. A dificuldade maior no diagnóstico do uso compulsivo da Internet diz respeito aos limites entre o uso inócuo e sadio e o aparecimento de conseqüências danosas advindas dessa atividade exercida em excesso.
É recomendável lembrar que as preocupações em relação ao uso da Internet devem ter a mesma relevância que o uso excessivo de qualquer outra tecnologia, a qualquer outro dispositivo eletrônico, tais como a televisão, o celular, videojogos e outros que prejudiquem o convívio familiar ou outras atividades presenciais. E por fim, não há dúvidas de que a Internet trouxe consigo numerosos benefícios para a sociedade, na medida em que melhorou e facilitou a comunicação e obtenção de informação. Entretanto, esse desenvolvimento não está isento de riscos e aspectos negativos, entre eles o risco de compulsão em pessoas que independente da internet, são vulneráveis à compulsão.
* Considerações finais
Particularmente, não acreditamos na visão simplista do estar on-line ou off-line, ser real ou virtual, porque afinal das contas, seria de extrema ingenuidade considerar que somente as relações “off-line” é que podem, verdadeiramente, ser admitidas como amizades “reais”. O uso do ciberespaço é fato, e ninguém pode ignorar que os avanços da humanidade não procedem a passos para a retaguarda. O desafio do ser humano está justamente em aliar os progressos tecnológicos, sejam eles eletrônicos ou não, ao seu cotidiano de forma consciente, benéfica e vantajosa.
Respondendo a questão: - você acha que a internet trouxe benefícios às relações sociais?
- Sim, acreditamos fielmente que sim!
Aqueles que já mantinham a prática do contato pessoal agregaram mais um aliado aos processos comunicacionais; e para quem tinha dificuldades ou não possuía tal hábito, eis uma forma de diluir medos e recalques. Porque, se a Internet inexistisse, sem sombras de dúvida, o ser humano encontraria outro repositório (culpado) para o seu repertório de ansiedades, depressões e carências. Afinal, isto é típico do ser humano.
Távola Redonda
Nelza Lau, Romeu Fernando Waechert e Heitor Jorge Lau